Em anos recentes, a Inglaterra fez um grande esforço para se tornar o epicentro mundial do futebol de clubes. Cifras bilionárias nas negociações de transmissão de televisão, tanto no mercado doméstico quanto no internacional, tornaram-se a nova norma. E, em conjunto com o aumento exponencial de receitas advindas de acordos de marketing por fornecimento de material esportivo e marcas estampando as camisolas dos astros, o futebol inglês tem sido muito bem sucedido na missão que imputou a si próprio.
Auxilia – e muito – nessa missão, o fato de os seus concorrentes europeus já não estarem mais nas melhores condições financeiras. O maior declínio ocorre evidentemente na Itália, onde a redução da posição financeira do país, combinada com problemas dentro de campo, levou ao declínio do “calcio” como um todo. Na Espanha, o fenómeno é semelhante ao da concentração de renda que acomete o mundo moderno: os maiores clubes – Real Madrid, Barcelona e, por sua vez, em tempos recentes, Atlético de Madrid – angariam cada vez mais recursos em detrimento dos rivais.
A Alemanha era a liga que poderia fazer a maior frente à missão inglesa. E não o fez por suas próprias burocracias, que impedem a tomada de clubes por bilionários querendo fazer do futebol um parque de diversões pessoal. E também por conta da enorme influência que o Bayern de Munique tem sobre o ambiente futebolístico, com suas tácticas já conhecidas de “canibalização” do desporto alemão ao enfraquecer competidores para se fortalecer – sem perceber que isso enfraquece o país como um todo.
? Benjamin Pavard unveiled by Bayern. ?#UCL pic.twitter.com/289Q0aUkml
— UEFA Champions League
(@ChampionsLeague) July 15,
2019
Logo, a Inglaterra começou a projectar sua força por meio da janela de transferências. Chegou-se à marca de 2,17 biliões de euros despendidos na compra de jogadores durante a época 2016-17. Uma marca vultuosa e que, pelas tendências de inflação que o mercado de transferências na Europa mostrava, só cresceria.
Entretanto, este ano, as coisas aparentemente mudaram de forma. Quiçá a Premier League e seus clubes começaram, finalmente, a ouvir as vozes dos economistas que ainda não trabalham no meio, mas que, mesmo como meros entusiastas do desporto, olhavam com preocupação para a bolha inflacionária que estava sendo formada nesse mercado.
E, assim, chegou-se ao estado actual da janela de transferências inglesa, em que as transacções têm sido escassas e muito pontuais. Algo talvez motivado por outro critério económico, o de “incremento marginal”, uma vez que clubes como Manchester City e Liverpool, de acordo com a Betclic, um dos melhores sites de apostas desportivas, são os favoritos aos títulos da liga inglesa e da Liga dos Campeões – com 1.45 e 3.60, respectivamente, de chance de vencer –, mesmo sem transferências megalomaníacas como as de outrora. Neste cenário, o retorno sobre o investimento em novos jogadores começa a declinar ao invés de subir, o que está longe de ser o melhor para qualquer dirigente desportivo.
? @ManCity have now won FIVE domestic trophies in a
row:? Community Shield
? League Cup
? Premier League
? FA Cup
? Community
Shield? Pure dominance. pic.twitter.com/WkjhsgRw6S
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SPORF (@Sporf) August 4,
2019
Há, entretanto, para além de City e Liverpool, outros quatro grandes clubes querendo se aproximar dos times que tomaram as duas primeiras posições na tabela da Premier League na época passada. E, com o Chelsea fora do páreo, por conta de uma suspensão de transferências, devido à quebra de regras de recrutamento de miúdos à sua categoria de base, os times restantes – Arsenal, Manchester United e Tottenham – estão em posição muito boa para avançar com contratações de peso.
Até aqui, tivemos algumas dessas contratações, mas nada tão “revolucionário” quanto o que foi visto de City e Liverpool em janelas anteriores. Ainda que as contratações de jogadores como Tanguy Ndombele, pelo Tottenham, e Nicolas Pepe, pelo Arsenal, tenham tudo para gerar grande impacto às equipas mencionadas, não soam ainda como adições que vão aproximálas dos atuais favoritos disparados ao domínio do cenário inglês. E, a três dias do fechamento da janela de verão, haviam sido gastos “somente” 1,2 biliões de euros em transferências no país.
Talvez isso seja apenas questão de momento. Uma tentativa de bloquear a subida inflacionária dentro e fora da Inglaterra, com o auxílio moderado de outras grandes forças do futebol europeu, que também não têm tido tanto ânimo para gastar suas cifras. É necessário, porém, observar se não há risco de isso se tornar uma tendência para o futuro longínquo.