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O céu de fevereiro de 2022

O céu de fevereiro de 2022
O céu virado a Sudeste, às 06h33 do dia 27 de fevereiro de 2022. O “pontinho” logo abaixo da Lua é o Telescópio Espacial Hubble (HST). © Ricardo Cardoso Reis / Stellarium

No início do mês o planeta Júpiter ainda se vê virado a Oeste, ao anoitecer, mas aproxima-se cada vez mais do Sol, no céu. No fim do mês começa a cruzar a nossa estrela e deixa de se ver durante algumas semanas, reaparecendo ao amanhecer, lá para o fim de março.

Por isso, este mês, observar os planetas será uma atividade mais para os madrugadores, com Mercúrio, Vénus e Marte todos visíveis ao amanhecer.

No início de fevereiro, Vénus e Marte estão a quase 9 graus de distância um do outro, mas ficam cada vez mais próximos durante este mês, até à conjunção de 12 de março, quanto estarão a menos de 4 graus um do outro. Já Mercúrio é o mais difícil de ver dos três, porque nunca se afasta muito do Sol, no céu, e por isso vê-se sempre perto do horizonte.

Mas o mês começa com uma lua nova logo no dia 1. No dia seguinte, um finíssimo crescente passa a 5 graus do planeta Júpiter, ao pôr-do-Sol. O amanhecer do dia 8 será o melhor dia para ver Mercúrio, pois é o dia em que este estará mais afastado do Sol. Mesmo assim, não esperem vê-lo “lá em cima” – estará no máximo a 8 graus acima do horizonte, quando o brilho do Sol nascente o ofusca. Neste mesmo dia, a Lua atinge a fase de quarto crescente.

Um finíssimo crescente da Lua e o planeta Júpiter, às 18h30 do dia 2 de fevereiro de 2022. Como a Lua se move cerca de um palmo por dia, no dia 3 estará pouco acima do planeta. © Ricardo Cardoso Reis / Stellarium

O dia 9 será o dia em que a “superestrela” que é o planeta Vénus estará mais brilhante em todo o ano. Uma semana depois, no dia 16, a Lua atinge a fase de lua cheia, enquanto o dia 23 será o dia em que Vénus estará mais afastado do Sol, no céu, e por isso mais alto no céu ao amanhecer. No mesmo dia a Lua atinge o quarto minguante.

Mesmo antes do amanhecer do dia 27, o desafio de observação do mês: Por volta das 6:33, irá passar debaixo da Lua, já num minguante bem pequeno, o Telescópio Espacial Hubble (HST)! Segundo a página Heaven Above, que prevê quando é que determinados satélites nos passam “por cima da cabeça”, o HST começa a sua passagem às 06:25:37, virado a Sudoeste e põe-se às 06:35:34, a Este-Sudeste (ESE). Mas logo por cima da Lua, estão os planetas Marte e Vénus, praticamente alinhados com o nosso satélite, com a Lua a 3 graus de Marte e a 8 graus de Vénus. Ou seja, por volta das 6:33 podem ver, de baixo para cima e praticamente alinhados, o Telescópio Espacial Hubble, a Lua, Marte e Vénus.

Mas o desafio não termina aqui! Mercúrio está à esquerda deste quarteto, mas se a Lua, a esta hora, está a 8,5 graus acima do horizonte, Mercúrio estará apenas 2,5 graus acima do horizonte! Podem tentar observá-lo seguindo a trajetória do HST, pois às 06:34:50 este estará à mesma altura que Mercúrio, mas 6 graus à direita do planeta.

Quanto ao velhinho HST, depois de décadas de descobertas inigualáveis, tem os dias contados. O seu substituto, o Telescópio Espacial James Webb (JWST), já chegou ao local de onde vai observar o Universo e estima-se que comece a operar em pleno lá para junho.

A fechar o mês, no dia 28, a Lua, que se move aproximadamente um palmo por dia no céu, vai passar a cerca de 8 graus de Mercúrio, mesmo antes do Sol nascer.

Boas observações.

Texto por Ricardo Cardoso Reis
Licenciado em Astronomia pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Atualmente está a completar o mestrado em Ensino e Divulgação das Ciências, também pela FCUP.
Trabalha há mais de 20 anos em comunicação de ciência, na promoção da cultura científica e em educação não-formal. Atualmente pertence ao Grupo de Comunicação de Ciência do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, a maior unidade nacional de investigação da área, e ao Planetário do Porto – Centro Ciência Viva, o maior planetário digital em Portugal.
É sócio efetivo da Sociedade Portuguesa de Astronomia, da associação Centro de Astrofísica da Universidade do Porto e da Rede SciComPT, tendo pertencido aos orgão sociais desta última no triénio 2017-2020.